APRESENTAÇÃO CAPA E RESUMO De Safras da Olhalva de Augusto Deodato Guerreiro
A Capa e a paginação são de Isilda
Marcelino e a ilustração é uma bela aguarela com papoilas alentejanas, da
autoria de António Saiote.
A
Contracapa tem uma fotografia do autor e o texto seguinte:
"Safras da Olhalva" é um
arauto de vida e de esperança, esculpido a prosa e a poesia, dourado a flores
sublimes do viço das cores da magia, balsamizado a policromáticas viagens e a
estimulantes paisagens, num design
que só a razão e o coração inventam, sentem e difundem:
· Safras... sementes e
sementeiras, searas e colheitas na índole e nas tipologias que o nosso
imaginário for capaz de conceber e de materializar, essencialmente na génese da
fertilidade agrícola de um mágico lugar alentejano, o Monte da
"Odisseia", uma fascinação que se estende e multiplica, que simboliza
um indissociável amplexo de futuros à maravilhosa vida.
· Um sorriso conceptual e
provocatório da recuperação de alguns regionalismos lexicais em vias de
extinção; da metaforicidade vivificante e humanizante da vida; de uma viagem em
que o curso e efeito dos conceitos é como a crescente pressão do volumoso
caudal de um rio exercida nas suas margens, fazendo-as naturalmente ceder,
alargando-as e, por consequência, ganhando e preenchendo com as suas águas cada
vez mais espaços vazios, sedentos e famintos... à espera das imperativas
soluções de olhares construtivos e universalizantes, assentes na cultura da
dignidade humana e da partilha, da humanização das pessoas e do mundo da vida.
· Uma doce emergência de
árvores que querem ser fecundas, disseminando futuros promissores nos seus
frutos, profícuos nos grandes valores humanos, perpassando vicissitudes tão
diversas e misteriosamente complexas, numa trajetória em cinco dimensões, cujo
objetivo mais desejável será a mesma ser um tesouro permanente de descobertas e
nunca ter fim...
«Safras
da Olhalva» é uma metáfora vital, protagonizada sobretudo por duas árvores,
Joana e Diogo, que o romance apanha e mima, que a poesia perfuma e alimenta,
que a ficção eleva e prolifera, que o realismo agarra e a ilimitada
universalidade do olhar abraça.
Safras da Olhalva, de Augusto Deodato Guerreiro
Breve
apresentação do livro pelo Dr. João Palmeiro, Advogado e Presidente do Conselho
de Administração da Fundação Nossa Senhora da Esperança, em 16 de abril de
2016, no Auditório Agostinho da Silva da Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias
O Professor
Deodato Guerreiro habituou-nos, na sua escrita, a uma eloquência de pensamento
e expressão e, nessa justa medida, este romance não constituiu excepção. O
autor romancista imprime em cada linha um estilo próprio, à qual confere um
rigor extremo na descrição, na métrica ou na concordância.
"Safras
da Olhalva" é um romance sublime, que enquadra com agilidade dissertações
filosóficas e científicas e, na sua generalidade, todos os pensamentos convocam
um verdadeiro tratado ao comportamento social.
O romance,
que em momentos se confunde com uma biografia, deixa transparecer um escritor
que transmite em cada palavra emotividade na sua escrita e que relata com
detalhe cada pormenor de cada história.
O autor
estabelece um paralelismo formal entre a fertilidade agrícola e cinco
ocasionais momentos, envoltos aparentemente em histórias ficcionadas, mas que
podiam ser simultaneamente uma biografia.
O autor faz
um constante apelo à vida e destaca os elementos mais simples que nos rodeiam,
para enaltecer o prazer de viver, mesmo depois de um trágico acidente.
O fenómeno
da comunicação está sempre presente em cada linha, como forma de explicar o
desenvolvimento humano e das relações interpessoais.
O perfume
das papoilas, esculpido na prosa e na poesia, faz também do "Safras da
Olhalva" um texto diversificado no estilo literário, e com as constantes
evocações lexicais e utilização de vocábulos tradicionais, que vão morrendo com
as próprias pessoas e que enriquecem o texto com um purismo literário.
O romance
constitui, em diversos parágrafos, um tratado ao amor, sendo que o Autor parte
da relação e dos diálogos entre as personagens apaixonadas Diogo e Joana, para
ir também aos limites do pensamento libidinoso.
Os cinco
capítulos do livro enquadram cinco dimensões do imaginário do autor, que
refletem cinco episódios dispostos no tempo e lugar de curta duração, mas que
extrapolam para significados de uma vida.
No
primeiro, "Monte da Odisseia", destaca-se o episódio do sonho,
momento que se revela decisivo para a percepção de todo o romance, e para a
importância diferenciada da comunicação entre as pessoas.
No segundo
capítulo, "Luar de Verniz", o autor esgrime os seus pensamentos sobre
a relação do casal ficcionado, através de poemas muito doces.
Depois vem
o "Futuro", concluindo o autor que a melhor forma de o antecipar é
interpretar o passado e compreender o presente. Os filhos do casal significam a
continuidade do pensamento e a valorização do que verdadeiramente é essencial.
Este capítulo confunde-se com um verdadeiro laboratório social, cujo epílogo é
o diálogo eloquente entre a família.
No
"Moinho Maior" destaca-se a divulgação do projeto "Aldeia da
Vida Inclusiva e Dignidade Activa", dado tratar-se de um projeto
inclusivo, com ligação estreita a diversos relatos científicos.
A quinta
dimensão denomina-se "Nas Pousadas de Portugal", que corresponde a um
verdadeiro tratado de filosofia. O autor explica o conceito
"sensoriocognitivo" através da manifestação e consumação da espontaneidade
e carinhosa volúpia de Diogo e Joana. Nesta dimensão é descrito, com cuidado, o
projeto "Casa da Tiflologia: Ciência, Cultura e Inclusão", ou seja, uma
vez mais o autor liga de forma curiosa o romance com a descrição de um projeto
científico que poderá ser uma realidade.
João Palmeiro
Safras da Olhalva, de Augusto Deodato Guerreiro
Não é a Peregrinação Histórica de Fernão Mendes Pinto, nem a Peregrinação Interior de António Alçada Baptista, mas é, sem sombra de dúvida, uma Peregrinação Afectiva.
A infância. Olhalva. Al-balade. O Alentejo. O Mundo.
Os livros de memórias pecam quase sempre por ter muitos parágrafos lamechas, algumas canduras, fífias e floreados de mais.
Não é o caso.
O grande desafio que se põe a todo o escritor é dar a verdade com contenção, a oralidade com suporte cultural, e os conceitos e falas com conta, peso e medida.
E concentrar, enformar e analisar a matéria factual, a fim de a opor à invenção literária, que muitas vezes deforma e mutila os factos que se pretendem descritos.
Construir um livro é como construir uma casa, não é imitar as cavernas de Altamira, nem as rosáceas do sol-posto: é erguer algo de nós próprios, com as nossas mãos, as nossas ferramentas de vida e o tijolo da nossa sempre eterna aprendizagem.
Desde já confirmo que “Safras da Olhalva” é um livro honesto, limpo, rico de seivas, com uma auto-análise inteiramente conseguida.
Num texto variado e complexo de atmosferas, o autor conseguiu ver, sem aspas, o empirismo de algumas situações (por exemplo, o vinho do cunhado e suas variantes literárias) e o realismo de quase todas.
E, sem se deixar levar por intuitos polémicos ou demagógicos, relata quase sempre com ternura, muita ternura, a relação familiar, especialmente a proximidade pai-filhos.
Apuro na composição narrativa, elegância na expressão condensada e a economia da linguagem fazem desta obra de peregrinações um lugar de afectos e lembranças com “templos humanos vivos”, como escreve o autor.
Um livro de ideias e de ideais?
Com certeza.
Mas a nossa mais sublime ideia não terá vida se a não concretizarmos em algo de palpável, literário, visual, artístico ou outros.
Safras da Olhalva é, pois, um livro de ideias e de ideais onde o autor recapitula toda a sua vida, passada e presente, e onde os episódios refluem com uma nitidez catártica.
Peregrinação de arrojo e novidade, luminosa e humanista, cativante, aqui e além opressiva, como opressiva pode ser a vida, onde o autor invoca a segurança das coisas para o corpo, e a “segurança da cultura para o espírito”.
Vem a propósito notar a dificuldade na classificação desta obra mista, prosa e poesia, embora a sua estrutura possa ser mais ou menos estabelecida a partir do título.
O Augusto Deodato Guerreiro Doutor vestiu o capote e a samarra do Hortelão, do Ovelheiro, do Ganhão e entrou na eira da vida, revivendo entes queridos e um Alentejo que será sempre a sua Pátria.
É um livro poderoso na informação, que denota de imediato a formação clássica do autor.
O sentido estético da vida não é um carnaval, como alguns julgam, nem um prazer factual, como alguns querem: é a qualidade da vida, é a sua exaltação, a dimensão de uma vivência profunda, que supera o imediato e nos transporta para a invenção plena da Beleza.
Lembro-me, aqui e ali, dos “Cem anos de Solidão”, de García Marquez e dos “Filhos de Sanchez”, de Óscar Lewis.
A narrativa de Deodato está muito próxima, e ainda bem, da literatura sul americana, hoje por hoje a melhor do mundo.
Estamos todos no mesmo barco, no mesmo mar, na mesma viagem, e quase nunca damos por isso.
Nacionalizemos, pois, a cultura, escrevendo, pintando e cantando sobre o que é nosso:
Sigamos Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Camilo e Antero, Eça, Garret, Manuel da Fonseca, Antunes da Silva e Cesário, por exemplo.
Não é sebastianismo meu: é, pelo contrário, dar caminho e carinho a uma tradição cultural de séculos que é a nossa.
É preciso avivar o grito, a loucura, a audácia, qualquer coisa mais do que este silêncio mortal em que tantas vezes nos acomodamos.
Deodato Guerreiro fugiu ao aristocracismo da “República das Letras” e colheu do povo, a que também pertence, regionalismos e aforismos, vasto material linguístico, porque sentiu a obrigação de uma intervenção directa do intelectual no domínio quer dos factos, quer das ideias, em cujo seio germinam as raízes do nosso futuro mais ou menos próximo.
Quem esquece o seu primeiro amor não viverá o último.
O Doutor Deodato não esqueceu o seu primeiro amor – Olhalva – e já projeta para o futuro um lar para os escritores, uma casa luminosa (aldeia da vida) para investigar largas áreas da deficiência humana.
Bem haja.
Disse Augusto Cury que:
“Todos querem o perfume das flores mas poucos sujam as mãos para as cultivar”.
Augusto Deodato Guerreiro pegou na enxada, sujou as mãos e plantou este belo molho de cravos, que agora e em boa hora publicou.
É tudo.
Eduardo Olímpio
Março de 2016
Alguns textos integrais recentes de e sobre Augusto Deodato Guerreiro
Comunicar
é como respirar. Ninguém vive sem respiração e sem comunicação, seja esta de
que forma e tipologia for, sendo com ela que todos nos relacionamos e
interagimos, nos socializamos, nos desenvolvemos e nos humanizamos...
Sustento cada vez mais esta minha convicção e, a propósito do que escrevi sobre
o museólogo da Casa Museu do Acordeão em Paderne (no [Boletim Informativo]
«Bodas de Prata: 25ª Grande Gala Internacional do Acordeão»] e do que
escreveram sobre mim no livro O Acordeão no Algarve: Um Século de Histórias
e Memórias, sendo eu também acordeonista e compositor, acrescento:
O
acordeão faz-nos comunicar e respirar mais destemidamente e mais autênticos,
mais além-fronteiras e num amplexo/ex-libris da "alma algarvia" mais
envolvente e com mais alegria.
Venho
partilhar convosco o artigo Augusto Deodato Guerreiro, escrito por Nuno
Campos Inácio (publicado em 2016, na página 136 do seu livro “O Acordeão no
Algarve: Um Século de Histórias e Memórias” e os meus artigos O acordeão
e a paixão do museólogo Francisco Sabóia (publicado em abril de 2016 no
[Boletim Informativo] «Bodas de Prata: 25ª Grande Gala Internacional do
Acordeão», 14 até 25 de abril de 2016) e o À luz da acessibilidade e da
usabilidade nas Cidades/Espaços Urbanos: ecologia comunicacional inclusiva
(publicado em março de 2016, em M. Oliveira & S. Pinto (Eds.), Atas do
Congresso Internacional Comunicação e Luz (pp. 215-227). Braga: CECS da
Universidade do Minho).
E
outros que vierem a merecer a nossa seleção.
Augusto
Deodato Guerreiro
Por
Nuno
Campos Inácio
Nascido
em Alvalade do Sado, a 23 de Janeiro de 1949, Augusto Deodato Guerreiro tem as
suas origens familiares no Algarve, sendo o seu pai natural da freguesia de
Alte, terra que o acordeonista sente como sua. Certamente um dos acordeonistas
com maiores habilitações académicas do país, Augusto Deodato Guerreiro é
Doutorado em Ciências da Comunicação, Investigador e Professor Catedrático em
Portugal e Director Científico de Doutoramentos ministrados em Portugal e na
Universidade Complutense de Madrid.
É
autor de mais de duas centenas e meia de artigos científicos e tem mais de trinta
livros publicados, nas mais variadas áreas.
Em
termos musicais, começou a tocar concertina, de forma autodidata, sendo que,
com apenas 7 anos de idade, já compunha. A par com os estudos escolares,
aprendeu solfejo, piano e violino, evoluindo da concertina para o acordeão, o
seu instrumento musical de eleição, para o qual compõe, tendo várias músicas
registadas na Sociedade Portuguesa de Autores, desde 1972. Apesar de não fazer
da música profissão abrilhanta como acordeonista inúmeras festividades, participando
em concertos e espetáculos de dança e executando música popular e clássica.
Nas
palavras de Augusto Deodato Guerreiro: (...) a música tem sido para mim, por
excelência e incentivo, o meio artístico e científico, sociocomunicacional e
educomunicacional, que o romance agarra e mima, que a poesia perfuma e
alimenta, que a ficção eleva e prolifera, que o realismo beija e sonha, que a
ilimitada universalidade dos sentimentos e dos olhares abraçam. Sou músico numa
diversidade humana de orquestras profícuas.
Por
Augusto
Deodato Guerreiro
Francisco
Sabóia, alegre alentejano inspirador e confraternizador, natural de Santa
Bárbara dos Padrões, freguesia do concelho de Castro Verde, dignifica o
acordeão no Algarve e no mundo.
O
inconfundível som e design do acordeão constituem um deslumbre
iconográfico e um sentimento provocatório e promotor de irresistíveis
movimentos-sorrisos-alegrias, um trinómio comportamental que o acordeão sempre
faz acontecer em cada um de nós. Ninguém consegue, perante o som e o ritmo
impulsionador de um "corridinho", ou seja qual for o estilo musical,
ficar quieto, macambúzio e triste. É naturalmente estimulado a mexer-se e, até,
a dar ao pé, a brincar e a pular. O acordeão é um sublime instrumento composto
de palhetas metálicas que entram em vibração por meio de um fole,
apaixonante nas diferentes melodias simples e complexas, nas sofisticadas
orquestrações de notas (sentidas e colhidas na execução em sintonia das duas
mãos) e estilos musicais que o singularizam na alma da sua sonoridade
encantatória e única. A magia da "Alma Algarvia", do exímio
acordeonista e compositor José Ferreiro (Pai) é uma espécie de ícone sensorial
e arrebatador que só o som e a imagem deste instrumento representam e ostentam,
como bandeira audiovisual de música sui generis dos "Algarves" de
Portugal em todos os lugares e cantos do mundo, sabendo-se que, desde a música
popular à denominada música clássica ou erudita, não se lhe reconhecem limitações
nem fronteiras no seu percurso...
Francisco
Sabóia ganhou e interiorizou, de uma forma profunda e destemida, aquela
frutífera paixão que, só com ela, se conseguem cumprir grandiosos
acontecimentos e eventos. O seu amor pela arte de exprimir sentimentos ou impressões
por meio de sons, que só o acordeão produz, levou-o a criar e a inaugurar, em
11 de agosto de 2011, uma autêntica "pérola de ouro", (um oásis
acordeonístico), que é geradora de investigação, publicação de livros e
realização de "Galas de Acordeão" (celebrando-se em abril deste ano a
25ª Gala, "Bodas de Prata"), a profícua "Casa Museu do
Acordeão", situada numa acolhedora aldeia do Algarve, Paderne, que a rede
de redes planetária, a Internet, já a tornou acessível no mundo inteiro.
O
museólogo Francisco Sabóia, apesar de considerado por ele próprio (o que é
comprovadamente injusto!) "um homem simples e analfabeto", tem dentro
de si, sem nenhum tipo de dúvidas, uma férrea vontade e determinação e uma
cultura humana nata, que são atributos pessoais que o têm feito generosamente
teimoso no empenho e desempenho numa excelsa festa de investigação e divulgação
do acordeão e de acordeonistas de Portugal, desde os mais virtuosos aos mais
simples e menos conhecidos, atraindo ao mesmo tempo e integrando neste contexto
os campeões de acordeão do mundo.
O
incontornável fascínio do museólogo Sabóia pelo acordeão fê-lo pesquisar,
recolher e adquirir (a expensas suas) acordeões e milhares de peças
relacionadas com o acordeão (onde encontramos caminhos artísticos e de
composição desde a génese, meados do século XIX, até à atualidade do acordeão),
ficando Sabóia e o seu magnífico espólio museológico ligados para sempre à
História da Música Algarvia, já com mais de nove milhares de fotografias,
centenas de registos sonoros (vinil, cassete, CD), inúmeros quadros e posters,
diversos exemplares de acordeão, objetos e indumentárias pessoais de
acordeonistas, homenagens e troféus por si fomentados e atribuídos, peças de
arte concebidas e manufaturadas pelo próprio museólogo, registando um número de
visitantes que já ultrapassa os 70 000... assim transformando a sua "Casa
Museu do Acordeão" (que já podemos encarar como um grande livro da sua
vida e obra a escrever) num centro de investigação e desenvolvimento do espírito
da aliciante e galvanizante arte e ciência musicais, que só o invicto e
revolucionário acordeão encerra e as igualmente invencíveis paixão e teimosia
de Francisco Sabóia continuam a promover, numa espécie de viço incentivador das
suas 59 Primaveras fecundas na vida do acordeão mundial, num lugar ex-libris,
no Algarve.
PARABÉNS!
Grande museólogo e amante do acordeão, também acordeonista, Francisco Sabóia.
À
Luz da Acessibilidade e da Usabilidade em Cidades/Espaços Urbanos: Ecologia
comunicacional inclusiva
Por
Augusto
Deodato Guerreiro, Ph.D
Escola
de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação (ECATI) da
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT)
E-mail:
deodato.guerreiro@ulusofona.pt
ABSTRACT/RESUMO
«Communicating is like breathing.
No one can live without breathing and without communicating, whatever the
manner and type; with it we all relate to and interact with one another, we
develop and humanize, carrying out a professional activity and helping to
build, humanize and make a more ethical world of life for all.» (Guerreiro,
2015a). É nesta aceção que procuramos investigar e aprofundar a questão da
comunicação e mediação cultural para todos, numa cidade ou num qualquer espaço
urbano com um volume significativo de ofertas culturais, à luz da inerente e
adequada acessibilidade e usabilidade, enquadrando metodologias estratégicas;
contributos da investigação e das boas práticas inclusivas para a reciprocidade
comunicacional e informacional, permitindo o desenvolvimento da equidade de
direitos e igualdade de oportunidades, com lugar para todos; apresentação de
teorias, experiências e boas práticas inclusivas no terreno, em Portugal e no
estrangeiro; chegar a uma conclusão sólida alicerçada em debates sobre o
conteúdo dos domínios curriculares interrelacionados, com o lançamento de
desafios e propostas, colhendo o interesse público através da formalização de
propostas mais alargadas e/ou especificamente alternativas, também com o
contributo dos participantes.
Palavras-Chave:
Ecologia Comunicacional; Educomunicação e cultura; Cidade para todos.
INTRODUÇÃO
No
«Ano Internacional da Luz» (a luz convoca todas as direções da vida humana,
independentemente das modalidades sensoriais disponíveis e ativas) e na
decorrente Conferência Internacional em que nos encontramos na partilha
científica de teorias e boas práticas inclusivas, também tem de começar a haver
muita luz para iluminar de modo fecundo a evolução das cidades e espaços
urbanos no sentido educomunicacional, pedagógico e cultural para todos, no
bem-estar na vida e na generalização da qualidade de vida para todos.
É
tempo de irmos ao encontro de outras potencialidades oferecidas por este
imensurável universo científico, num plano mais alargado do conceito de luz,
para além das perspetivas física, clássica, quântica e relativista (a luz é uma
sonda privilegiada do espaço e do tempo, sendo o universo todo o espaço e todo
o tempo...), abrangendo a luz e as sombras através das fontes de informação, a
luz mental, intelectual, espiritual, a luz a que se acede através da
multissensorialização ou da suplência multissensorial, que se desenvolve, em
geral, por ausência do sentido da visão, para que "se faça luz", a
luz cognitiva e sociocognitiva, a luz inclusiva. Sobre o conceito de luz, poderíamos
viajar ao longo dos tempos, mesmo no plano mitológico, até nos sentirmos
iluminados pelo século XVIII, passando por Voltaire, Shakespeare... e, entre
outros portugueses, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, Manuel
Alegre...
Podemos,
se quisermos e se estivermos devidamente apetrechados para a descoberta de
outros caminhos de luz, interceder, promover ou mesmo regenerar os espaços
urbanos, a vida urbana, fazer mais cidade ou redimensionar mais o espaço cidade
e modernizar a sua memória ou as suas memórias, acessibilizando-as a todos sem
exceções.
Pensamos
em cidades que ganhem sensibilidade e que cultivem uma alma educadora,
comunicativa e inclusiva, que tenham essa alma, que vistam e exerçam a
comunicação educacional vs educação comunicacional, numa perspetiva ecológica
de equidade a todos os níveis, onde dignamente todos os cidadãos caibam, mesmo
com as suas desvantagens sensoriais, motoras ou de outra índole, seja
apresentando uma configuração física anormal, desconfortável ou desagradável em
termos de imagem visual, em cadeira-de-rodas, com irregularidades de movimentos
e mobilidade, com bengala a pendular... ou com outra qualquer desuniformização
anatómica ou défice neuromotor... E aqui podemos ter o peso significacional,
funcional e operacional da comunicação educacional e da educação comunicacional
nas palavras e nas ações conducentes a uma maior luminosidade sobre o conceito
de inclusão.
FUNDAMENTAÇÃO
Costumamos
asseverar que «A saudável perenidade do autoconhecimento e da problematização,
fundada em vivos exemplos teórico-empíricos para a vida na sociedade de todos,
pode originar, desenvolver e consolidar acessibilidades nas mais diversas áreas
cognitivas, mas desde que as palavras e as ações se indissociem num mesmo
propósito inclusivo, num mesmo sentimento discursivo, e que falem sempre a
mesma língua.
·
As palavras orais ou graficofoneticamente representadas, na sua dimensão
intonacional e da glossemática, representam e reproduzem as
nossas diferentes circunstâncias e memórias desde o fundo dos tempos.
·
As palavras são as sementes vitais da luz e do fomento
comunicacional e sociocomunicacional, cognitivo e sociocognitivo, relacional e
interacional nas universalidades do "mundo da vida", do
desenvolvimento humano e do progresso em geral.
·
As palavras permitem-nos viajar e voar na ubiquidade comunicacional, nos
dados controlados (ou ínvios e por vezes sem domínio) em rede, na sua
permanente e cada vez mais refinada intrusão nas nossas vidas, sob a forma de
"big data" (os grandes e crescentes arquivos de dados) ou de
"normose", a proeminência dos nossos tempos.
·
As palavras constituem (como o nosso próprio e indispensável respirar)
as fartas e fecundas searas de pensamentos e ideias, de inovação e
criatividade, o alimento e a materialização laboratorial sintática, semântica,
pragmática e do valor semiótico de tudo, da significação, aplicação e
usabilidade dessas sementes e searas na progressiva formação e
transformação de mentalidades para a revolução social, edificação e consolidação
de sociedades e das transversalizantes redes sociais (incorporando a formação
das diversas culturas desde a imanência pensante até à atual comunicação
intercultural, multiétnica e cibercultural), rumo a um desejável mundo humano,
global e cosmopolita, cada vez mais natural e eticamente inclusivo.»
(Guerreiro, 2015b).
«Comunicar
é como respirar. Ninguém vive sem respiração e sem comunicação, seja esta de
que forma e tipologia for, sendo com ela que todos nos relacionamos e
interagimos, nos socializamos, nos desenvolvemos e nos humanizamos,
desempenhamos uma atividade cívica e profissional, ajudamos a edificar, a
eticizar e a humanizar o mundo da vida para todos, à luz da acessibilidade e da
usabilidade oferecida pelas cidades e/ou espaços urbanos a todos os cidadãos,
numa ecologia sociocomunicacional inclusiva que valorize a diversidade humana,
no cruzamento da problemática da inclusão social das pessoas com Necessidades
Especiais com a vida nos espaços urbanos e nas cidades, considerando ser no espaço
da cidade que, nos nossos dias, encontramos mais condições para o
desenvolvimento humano e da humanização.» (Guerreiro, 2015a, 2015b, 2014b,
2013, 2012a, 2012b, 2011a, 2011b, 2009). Se não respirássemos, não vivíamos; se
não comunicássemos, não evoluíamos, não havia coevolução... A vida humana seria
manifestamente diferente e inferior daquela que hoje temos, vivemos e
maravilhamos. As imagens que pretendemos retratar e transmitir estão nas
palavras e nas ações, que são sementeiras que devem fazer germinar searas de
pensamento, de ação e de concretização, configurando tantas imagens quanto a
nossa imaginação alcance para criar e implementar iniciativas que possam
contribuir para uma maior iluminação e consistência inclusiva do projeto
"Cidades Educadoras", cidades inteligentes, inclusivas.
É
nesta aceção que procuramos investigar e aprofundar a questão da comunicação e
mediação cultural para todos, numa cidade ou num qualquer espaço urbano com um
volume significativo de ofertas culturais, à luz da inerente e adequada
acessibilidade e usabilidade, enquadrando
-
Metodologias estratégicas para a acessibilidade e usabilidade comunicacional e
informacional, cultural e tecnológica, espacial nos diferentes planos urbano e
em rede online para
·
A preparação dos adequados recursos, tecnologias/produtos de apoio, meios
humanos complementares e outros que se achem necessários, consoante o exigido
por cada uma das sete áreas de incidência do Curso que temos em funcionamento
na ECATI/ULHT, no qual, sob o ponto de vista científico e de sensibilização
pública, se incentiva ao progressivo e profícuo trabalho a desenvolver pelas
Cidades Educadoras e inclusivas;
·
A elaboração de materiais adaptados, de espaços e contextos em que predomine a
acessibilidade e a usabilidade, conforme o exigido por cada uma das sete áreas
de incidência do mesmo Curso.
-
Contributos da investigação e das boas práticas inclusivas para a reciprocidade
comunicacional e informacional, multissensorial e intercompreensão das e com:
·
As pessoas cegas e com baixa visão;
·
As pessoas surdas;
·
As pessoas surdocegas;
·
As pessoas com paralisia cerebral;
·
As pessoas com multideficiência;
·
As pessoas com problemas motores;
·
As pessoas com problemas cognitivos e/ou com autismo/atraso global no
desenvolvimento.
-
Apresentação de teorias, experiências/boas práticas inclusivas no terreno, em
Portugal e no estrangeiro, com:
·
Exemplos de empresas e instituições em Portugal que têm trabalhado a inclusão
em cada uma das sete áreas do Curso;
·
Exemplos de empresas e instituições estrangeiras que têm trabalhado a inclusão
em cada uma das sete áreas do referido Curso.
-
Chegar a uma conclusão tão sólida quanto possível, também alicerçada em debates
sobre o conteúdo dos domínios curriculares interrelacionados (os passos formais
a seguir enunciados), com o incitamento e prospeção de desafios e propostas,
colhendo o necessário interesse público através da formalização e preenchimento
de um inquérito de satisfação/avaliação, a partir dos participantes, em que
estes também definem e fundamentam as suas sugestões.
Os
domínios curriculares interrelacionados e essenciais à abordagem deste contexto
multissensorial inclusivo são:
«Equipamentos
Culturais/Fontes de Informação/Redes Sociais para Todos»
·
Sucintamente, deverá abranger bibliotecas/mediatecas e as diferentes fontes de
informação online; arquivos históricos; cinema; teatro; ópera; dança;
televisão; internet; redes sociais... com enfoque na ergonomia espacial e
on-line, luminosidade, acessibilidade e usabilidade, audiodescrição, braille,
materiais audiotáteis, SPC (Sistemas Pictográficos de Comunicação), LGP (Língua
Gestual Portuguesa), leitores de ecrã braille e voz e em carateres ampliados,
aplicativos tecnológicos específicos. Neste domínio, bem como nos seis que vão
seguir-se, os funcionários que recebem e trabalham com o público deverão estar
munidos da formação específica para poderem interagir com as pessoas que
apresentam dificuldades, mercê da tipologia e grau da sua deficiência, no
acesso e utilização dos espaços e equipamentos ou exposições e outros tipos de
ofertas observáveis.
«Arquitetura
e Inclusão»
·
Sucintamente, deverá abranger e corresponder às exigências prementes dos
cidadãos com mobilidade reduzida ou condicionada, nos planos articuladamente
arquitetónicos e urbanísticos, da ergonomia, acessibilidade e usabilidade nos
diferentes espaços e vias públicas, passeios e lancis, pavimentos e
luminosidade exteriores e interiores, edifícios públicos, equipamentos de saúde
e culturais, habitações...
«Urbanismo
e Inclusão»
·
Sucintamente, deverá abranger questões que se prendem com localização e
acessibilidade; pavimentos das vias públicas, passeios/lancis e interiores, com
a necessária acessibilidade e usabilidade; ecologia comunicacional urbana
inclusiva, observando-se também o legislado para se cumprir nos planos da
arquitetura; sinalética urbana audiovisual e tátil, designadamente em todas as
passadeiras e em lugares de referência; transportes públicos equipados com
informação sonora nos pontos mais indicados para uma melhor audibilidade;
paragens de transportes públicos com informação audiovisual e tátil.
«Museologia
e Inclusão»
·
Sucintamente, deverá abranger estratégias de locomoção, visando a
acessibilidade, orientação e mobilidade; tecnologias adaptativas/aplicativos
eletrónicos de apoio; ergonomia/luminosidade; pavimentos táteis;
audiodescrição; réplicas táteis; mapas em relevo; braille; LGP; SPC; meios
humanos complementares de apoio; aperfeiçoamento e aplicação do "sapato
GPS" para pessoas cegas, "luva para Língua Gestual", etc.
«Turismo
para Todos»
·
Sucintamente, deverá abranger orientação e mobilidade; capacidade
audiodescritiva; LGP; aplicação de conhecimentos de comunicação aumentativa e
alternativa; produtos/aplicativos tecnológicos de apoio e meios humanos
complementares de apoio; breves noções na área da gestão hoteleira e inclusão;
atendimento inclusivo; orientação e mobilidade, acessibilidade e usabilidade em
todos os espaços do estabelecimento hoteleiro.
«Desporto
para Todos»
·
Sucintamente, deverá abranger as modalidades desportivas acessíveis aos
cidadãos com mobilidade reduzida ou condicionada, sensorial, motora ou de outra
natureza, e todos os processos alternativos e aumentativos que possam ser
utilizados na suplência multissensorial e motora destes cidadãos.
«Cidade
para todos»
·
Sucintamente, deverá passar a ter e a vestir o espírito humano e humanizante
insuflado e determinado na inovadora e incentivadora Declaração de Salamanca
(Declaración de Salamanca, 1994), no que respeita à inclusão escolar e
frutíferas consequências daí decorrentes, e na inter-relacionada e igualmente
incisiva no alargamento e promoção do conceito de inclusão e dos grandes
valores humanos nele implícitos, a Declaração "La Ciudad y las Personas con
Disminuición" (Declaración de Barcelona, 1995 e 2011), aprovada no
Congresso Europeu sobre a temática da inclusão, realizado em Barcelona em 1995.
Com esta Declaração surge o efeito da "Carta das Cidades Educadoras"
(Carta das Cidades Educadoras, 1990), a qual tem vindo a registar um
progressivo número de cidades signatárias, aderindo à Associação Internacional
das Cidades Educadoras (AICE), com o objetivo de se investir seriamente num
trabalho educativo e sociocomunicacional para todos, em que a ecologia
sociocomunicacional possa ter um papel relevante e decisivo no contexto da
inclusão, da dignificação social e qualidade de vida de todos os cidadãos,
cruzando a problemática da inclusão social (das pessoas com défices sensoriais,
neuromotores, de orientação e mobilidade, de autonomia e independência e de
outras tipologias) com a vida nos espaços urbanos/cidades, estando cientes de
que é no espaço da Cidade Educadora que encontramos mais condições para o
desenvolvimento humano, à luz da humanização. Ao mesmo tempo, haver estruturas
institucionais, designadamente autárquicas e de caráter assistencial e
associativo, devidamente preparadas e interventivas no esclarecimento social e
sensibilização pública, no que se refere às ofertas públicas e ao comportamento
de uma sociedade educadora e inclusiva.
Na
nossa ampliação do conceito de luz, temos vindo a concentrar-nos no problema da
inclusão social das pessoas com necessidades especiais nos espaços urbanos, ou
seja, em tudo o que possa ser enquadrado no conceito de Cidade Educadora e nos
objetivos a prosseguir neste âmbito (Ramos, 1997; Rodrigues, 2014). A inclusão
é uma problemática que vem sendo trabalhada com mais evidência desde os anos 90
do século passado (a célebre Declaração de Salamanca e sobretudo a partir do
Congresso Europeu sobre a inclusão, realizado em Barcelona em 1995, sendo
aprovada nesse evento a Declaração "La Ciudad y las Personas con
Disminuición" (23-24 de março de 1995, aderindo 369 cidades de 14 países
europeus, entre os quais 13 cidades de Portugal) e elegendo-se o slogan
"cidades para Todos", com a Carta das Cidades Educadoras e um
sucessivo número de cidades signatárias da mesma e aderindo à Associação
Internacional das Cidades Educadoras (AICE), fundada em Bolonha em 1994, com as
quais já se registam trabalhos de investigação avançada e de aplicação
significativos. À luz da história, a marginalização ou tolerância das pessoas
com necessidades especiais tem sido uma constante histórica que tem vindo a
evoluir de uma perspetiva terapêutica do problema para uma perspetiva educativa
e social, não dependendo a integração social das capacidades e competências
destes cidadãos, mas sobretudo do envolvimento e do contexto social.
Mas
estas preocupações, já com algum grau de importância e de plausibilidade,
remontam à década de 70 do século passado, constatando-se que a humanidade tem
vindo a evoluir, sob o ponto de vista cognitivo e de mudança de mentalidades em
relação às pessoas com necessidades especiais, caminhando-se de uma postura e
comportamento filantrópico e assistencial para patamares mais elevados de
entendimento social da problemática da deficiência, encarando-a como um
problema de direitos humanos e igualdade de oportunidades, visando já o direito
à inclusão e à sociedade inclusiva, organizando-se esta no sentido de acolher
todas as pessoas, independentemente dos seus condicionalismos, assim
valorizando a diversidade humana.
O
conceito de "cidades educadoras" deve-se a um movimento criado em
1990, que veio a ganhar sucessiva representação nos órgãos de poder num
crescente número de cidades, sustentando a importância que resultaria do
trabalho em conjunto, projetos e atividades, para melhorar a qualidade de vida
dos seus habitantes, tendo-se formalizado como Associação Internacional das
Cidades Educadoras em 1994, num Congresso realizado sobre a temática em
Bolonha/Itália, logo elegendo os seguintes objetivos:
·
Promover o cumprimento dos princípios da Carta das Cidades Educadoras;
·
Impulsionar colaborações e ações concretas entre as cidades;
·
Participar e cooperar ativamente em projetos e intercâmbios de experiências com
grupos e instituições com interesses comuns;
·
Aprofundar o discurso das Cidades Educadoras e promover a sua concretização;
·
Influenciar no processo de tomada de decisões dos governos e das instituições
internacionais em questões de interesse para as Cidades Educadoras;
·
Dialogar e colaborar com diferentes organismos nacionais e internacionais.
As
Cidades Educadoras são as que subscrevem a Carta das Cidades Educadoras (já
perto de seis dezenas na Rede Territorial Portuguesa) e que aderem à AICE,
visando a instauração nas mesmas do espírito e da prática da inclusão social,
em que a acessibilidade e usabilidade aconteça naturalmente, num plano de
ecologia sociocomunicacional, da equidade de direitos e igualdade de
oportunidades para todos os cidadãos.
As
Cidades Educadoras, as quais muito desejamos que incorporem com naturalidade na
sua ação um espírito verdadeiramente inclusivo, já vêm promovendo a cidadania
das pessoas com deficiência e o respeito pelas suas diferenças, organizando
campanhas de sensibilização para a inclusão social, com enfoque no acesso à
informação e aos serviços considerados imprescindíveis, bem como à saudável
convivência social; já vêm também criando serviços de apoio à vida diária,
adaptando edifícios e espaços públicos, melhorando a mobilidade e os
transportes, fomentando o estudo e a investigação em relação ao diagnóstico e
respostas às necessidades especiais, incentivando à elaboração de planos de
ação que viabilizem a concretização de ajustadas medidas para a recíproca
adaptação das cidades e das respetivas populações com necessidades especiais.
É
um trabalho que nos deve acompanhar desde o berço, para que a inclusão aconteça
com naturalidade, só assim havendo lugar ao esquecimento do vocábulo inclusão
com o peso e desconforto significacional que o conceito transporta. Isto porque
é, desde o berço, que vamos assimilando e utilizando conceitos, por intermédio
do treino e aprendizagem, do convívio social, da teorização e do puro
raciocínio. «O curso e efeito dos conceitos é como a crescente pressão do
volumoso caudal de um rio exercida nas suas margens, fazendo-as naturalmente
ceder, alargando-as e, por consequência, ganhando e preenchendo com as suas
águas cada vez mais espaços vazios e sedentos.» (Guerreiro, 2014b e 2015a).
CONCLUSÃO
A
formação especializada transversalizante que propomos, à luz da acessibilidade
e da usabilidade em cidades educadoras e espaços urbanos, numa perspetiva
ecológico-comunicacional inclusiva, é um projeto, cujos destinatários e arautos
científicos para a sua investigação, desenvolvimento e aplicação no terreno
são, principalmente:
·
Docentes e investigadores nas áreas das Ciências da Educação, da Comunicação e
da Informação (contemplando, designadamente, o marketing, publicidade e
relações públicas, design e webdesign, recursos humanos, a educação
comunicacional e a comunicação educacional, a biblioteconomia, arquivística e
museologia), do Desporto e Turismo/hotelaria, da Arquitetura e Urbanismo, das
áreas dos equipamentos culturais, das engenharias e empreendedorismo na
conceção das Cidades Educadoras e inclusivas, onde todos os cidadãos tenham
efetivo lugar;
·
Dirigentes e técnicos (mesmo nos planos securitário e de apoio) de equipamentos
e eventos culturais, turísticos e desportivos, que exercem funções
educomunicacionais e culturais no âmbito da administração central e local e em
instituições, organizações e empresas, nas ONG's e IPSS.
A
educação comunicacional e a comunicação educacional, a educomunicação,
pedagogia e cultura nas cidades progressivamente educadoras e
sociocomunicativas é, sem dúvida, uma forma de as tornar cada vez mais
naturalmente inclusivas e capazes de responder aos desafios da vida em comum,
dado que as cidades constituem o lugar privilegiado para esse efeito, visto as
mesmas serem consideradas laboratórios vivos de ensino/aprendizagem da vida
coletiva, espaços educomunicacionais e culturais permanentes, em que os
múltiplos agentes e entidades põem em prática os seus ideais de educação e
comunicação e de vida económica, cultural, científica, artística e espiritual,
onde se pretende que também haja acesso e usabilidade dessa luz através da
multissensorialização ou da suplência multissensorial direcionada para essa
luz, onde se pretende que haja mais luz intelectual, mais luz da psiche,
mais luz arquitetural e urbanística, mais luz na quotidianidade da vida de
todos, mais luz na solidariedade e na partilha em sobreposição aos egoísmos,
mais luz na moral e na ética, mais luz divina, mais luz no
empreendedorismo educativo, comunicativo e inclusivo... e, porque não também,
envolvendo ainda a força do azul espiritual, do azul da esperança, no dizer da
força do azul de Manuel Alegre expresso em Uma Luz, só Luz (doutamente
enquadrado pelo ensaísta e cientista social Catedrático Moisés de Lemos Martins
na Sessão Solene de abertura dos trabalhos desta Conferência Internacional
«Communication and Light»), no sentido mais amplo desta formulação que possamos
conceber e materializar...
«A
vida é uma surpreendente e generosa intrinsecalidade entre a utopia e a
realidade para que o mundo, impulsionado por essa implícita reciprocidade,
permaneça em constante e fecunda evolução, na diversidade humana em todas as
vertentes comunicacionais e do conhecimento, na equidade educativa e
profissional e de atenções afins, na igualdade de circunstâncias, oportunidades
e qualidade de vida para todos os cidadãos»
(Guerreiro,
2015b). Como cada um de nós, tudo no mundo global e cosmopolita é um megapuzzle
em permanente construção e que nunca estará concluído. Mas este mesmo mundo
poderá ir crescendo, frutífera e naturalmente, sendo cada vez melhor, se o
homem quiser e, de forma indómita, se empenhar, interagir e relacionar-se nesse
sentido.
A
Luz e a Vida em 2015?...
«Ano
Internacional da Luz» é sempre...
Da
física, do espírito, da mente...
Mas
poderia ser mais alargado...
P'ra
ser ao mesmo tempo proclamado
Ano
Internacional de Mais Consenso,
Ano
Internacional do Entendimento,
Para
iluminar Todos neste Mundo
Com
lírios do vale e cravinas, heras,
Também
murtas, jacintos e gerberas...
Mais
rosmaninhos, rosas, açucenas...
Árvores
de esperança sem contendas...
Sem
nos zurzirem mais o pensamento!
Dois
mil e quinze alerta toda a gente
Pràs
chuvas, ventos, plúmbeo céu zangado...
A
adejarem sobre nós num peso intenso,
Pedindo
Luz e Paz e Amor profundo
P'ra
vivermos mais gratas Primaveras
Com
um saber feliz e mais fecundo,
Sorrindo
a vida um sol mais eloquente,
Sem
desinteligências nem algemas!...
Sorrindo
a vida mais beleza e senso,
Felicidade
em flor, cor e poemas!
(Guerreiro,
Feijó: 17-08-2015).
Referências bibliográficas
Guerreiro, A. D. (2009).
Comunicação e cultura vs cidades acessíveis: para uma Teoria
Sociocomunicacional da Partilha na Arte. Atas do 8º Congresso Lusocom (Atas) e
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Guerreiro, A. D. (2011a).
Literacia Braille e Inclusão: Para um Estudo Histórico-Cultural e Científico da
Tiflografia, Tiflologia, Infotecnologia e Equipamentos Culturais em Portugal.
Lisboa: Câmara Municipal.
Guerreiro, A. D. (2012a).
Comunicação e Cultura Inclusivas. Lisboa: Edições Universitárias
Lusófonas/ULHT.
Guerreiro, A. D. (2012b).
Comunicação e cultura inclusivas no desenvolvimento humano. Atas do LIC’12 -
Lusofona International Congress: Perspetivas Internacionais (pp. 33-45), Gaia:
ISLA.
Guerreiro, A. D. (2011b).
Tifloperceptibilidade avançada vs sociocomunicabilidade, inclusão e qualidade
de vida. In A. D. Guerreiro (Ed.), Comunicar e Interagir: um Novo Paradigma
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Lisboa: Edições Universitárias Lusófona/ULHT.
Guerreiro, A. D. (2014a).
História Breve dos Meios de Comunicação: Da Imanência Pensante à Sociedade em
Rede. Almada: EDLARS - Educomunicação e Vida.
Guerreiro, A. D. (2014b). Num
polinómio educomunicacional e cultural, uma perspetiva inclusiva para uma
teoria do desenvolvimento humano na sociedade de todos (Vídeo/45 minutos, com
legendas e tradução em LIBRAS). Atas do I Congresso de Acessibilidade Online.
Rio de Janeiro.
Guerreiro, A. D. (2015a). European intellectual
platform for professionals in the field of typhlology: a challenge/proposal. R-LEGO
- Revista Lusófona de Economia e Gestão das Organizações 1, 111-125.
Guerreiro, A. D. (2015b). Para
uma teoria educomunicacional inclusiva em intervenção precoce na cegueira. Atas
do VII Seminário Nacional «Comunicação Inclusiva em Intervenção Precoce:
Desafios e Propostas. Lisboa: ULHT.
Ramos, M. L. M. (1997). La
Ciudad y las Personas con Disminuición: la Declaración de Barcelona. Polibea,
42, 34-39.
Outras referências
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(1990). Retirado de https://5cidade.files.
wordpress.com/2008/04/cartacidadeseducadoras.pdf.
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www.cm-palmela.pt/uploads/writer_file/document/320/Pdf_9_-_Declaracao_das_Cidades_Educadoras_para_o_desenvolvimento_Sustentavel.pdf.
Declaración de Barcelona
(1995). Retirado de www.bcn.cat/ciutat-disminucio/es/.
Declaración de Salamanca
(1994). Retirado de www.unesco.org/education/pdf/SALAMANCA_S.PDF.
Rodrigues, D. (2014, 05 de
abril). Declaração de Salamanca: 20 anos pela educação para todos. Jornal Público, p. 54.
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